sexta-feira, 9 de março de 2007

pode até parecer, mas eu não sou idiota.


ah, não sou, não.

domingo, 25 de fevereiro de 2007

verás que um filho teu não foge à luta.

dizem que a literatura é capaz de mudar o mundo. dizem que os pensamentos bem postos em palavras podem revolucionar gerações. podem alterar estados de ânimo. podem criar almas. ampliar visões.

estamos aqui para sermos lidos. o tempo todo. também o mundo está exposto às mil leituras possíveis.

estamos aqui, expostos. lê quem espera entender. quem procura saber qualquer coisa além.

somos, o tempo todo e inexoravelmente, a própria literatura que vive. que muitas vezes sangra...

não vim aqui hoje para vomitar poesias inúteis. tudo que digo, sou eu mesma me lendo em voz alta. quem já experimentou ler o mundo em voz alta? quem espera que tudo se explique involuntariamente?
eu não.

e por isso leio. se a literatura é capaz de mudar o mundo, cá estou para ser o veículo de toda a mudança. cá estou para fazer parte da revolução. não fujo à luta.

quinta-feira, 15 de fevereiro de 2007

pequena.

já não se podia mais falar em terrenos baldios. em ruas de uma pequena cidade quando cai a madrugada. de piscina de prédio sem sol, em fim de tarde. de praia em dia chuvoso.
já não se podia falar em nada. das pequenas dores se abrindo em peito e vozes na varanda. dos minúsculos vazios entre a morte e vida dos segundos. das estradas. das certezas, mais certezas da estrada e do tédio de ter lar. da grande supremacia dos demônios de dentro.
já não se pode escrever em prosa. nemmeno em verso. já não se pode pronunciar mais nada. nem mesmo em língua própria. e por mais que se explique e se tente entender, é sempre a dor do texto por acontecer. começar-se-ia assim um romance ou um conto. falta aqui saber, engenho e arte, mas sobretudo há falta de palavras próprias. de autênticas criações. tudo redundante. tudo em angústia e sem entendimento.
tudo falta de paz mesmo nos ventos frescos do fim da tarde. na praia, onde o mar deveria ser infinito e falhou mais uma vez.

quinta-feira, 8 de fevereiro de 2007

de uma conversa à tarde.

quantos barcos devem passar
e quanto de água nos olhos
para ver e quanto
d'alma completa
de sóis renovados
para esclarecer o espírito
quanto espaço em branco
para compreender o ritmo
quantas vidas novas
em vento fresco
à tarde
quanta esperança
para buscar
quanta valsa e dança
para despertar
quanta vida à toa
quanto mundo para se tocar
e tanto continente
tanta época
deus!

quanto mar...

sábado, 27 de janeiro de 2007

parfois les temps se confondent.

à medida que se enfraquece a luz
e os meus olhos se entregam à penumbra
o corpo, exangue, espalha-se na cama -
superfície de dormência, sonhos, planos meus!

não há sangue,
que a vida ali se enterra
sob lençóis e perdas de sentido.
a consciência,
ao empalidecer,
rouba-me o ritmo
e a dança, o ar, os segundos
também morrem.

há espaço entre dois silêncios
da penumbra à claridez da estrada viva.
há alguma beleza na fuga
do sangue que não se deixa estancar.

ante a vontade que se repudia,
o sangue segue, calmo, as horas frias
de uma pequena morte a acalentar.

quinta-feira, 25 de janeiro de 2007

mais l'amour! ou poeminha de ironia ímpar.

sem pressa
foi às ruas
como quem quer passear
e tantas delas
passaram
tantas delas deixaram pra lá

deixaram pra lá os estragos
de tantos dos corações
esqueceram-se de amores
e demais espaços em branco
deixaram ali tantos ritmos!
tantas valsas sem canções!

amaram no singular
e tantas coisas amargas
mostraram verdes e flores
e foram embora

- mais l'amour!
nunca existiram
e tantos foram nossos pesares
nunca encontraram
e tantos os nossos ais!

põe vestido bonito, menina
que a vida pode ainda passar
põe o batom vermelho, menina
que nunca se sabe...!

nunca se sabe!

terça-feira, 23 de janeiro de 2007

da proximidade dos anos, das pernas e o assalto das imagens (ou o simples e direto 'it does not make sense at all').

mais duas semanas
sem cansaço
mais dois espelhos
que imagens?

não é todo dia que se chove assim
não flui, que não flui
que não saímos nunca daqui

e espelhos

eram pernas,
nada mal para pernas
pernas minhas
sem manchas, sem medo

[todas as meninas
sendo meninas completas
à triste exceção,
eu mesma -

ah, que vergonhoso é ser mulher!]

e as práticas
e pernas ao espelho
aproximam-se, afastam-se
abrem-se em imagens
já não posso mais suportar as imagens

estou em qualquer parte

toda a gente parece
mais cinza que deveria
todo crescimento
inútil como existir

e todo mar invade
e espelha o céu

mas continuam as pernas
e me levam a qualquer parte

[ai, que vergonhoso é ser menina!
oh, quanta vergonha não saber!]